domingo, 9 de maio de 2010

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Era com a morte que eu conversava. Ela tinha uma voz calma, mansa. Puxava-me e colocava-me em seu colo acolhedor e confortável.
Em nosso longo diálogo, contou-me sobre sua própria experiência de vida e até mesmo sobre sua morte - dura, impactante, que mudou o mundo - e trouxe à tona antigas lembranças.

Durante um tempo, passou a mão em meus cabelos e foi quando eu me senti mais "distante do mundo". Foi como estar prestes a pegar no sono: sua mão leve alisava cada fio do meu cabelo ainda remexido depois do banho, seu rosto vinha de encontro ao meu para ter certeza que nenhuma lágrima cairia, e meus olhos relutavam para não fechar. Convidei-a a entrar no meu quarto, para uma conversa mais reservada e ela aceitou sem hesitar.

Disse que me levaria ao paraíso e que meus problemas logo passariam. Não eram só promessas da boca para fora, eu acreditava de olhos vendados em cada palavra. Problema eu traria para os demais, foi o que ela me alertou logo depois de ver um sorriso que enchia minha face enquanto eu pensava em como seria bom me livrar de tanta dor. Eu fiquei imaginando durante uns bons minutos em como deveria ser esse lugar... Ela me mandou parar de sonhar. Abri os olhos e lá estava ela ao meu lado, me convidando novamente ao paraíso. E para lá eu fui.
O problema é que eu não sei os próximos capítulos.

3 comentários:

  1. Mariana. disse...

    Eu gosto do jeito como você escreve. Me envolve de um jeito que me faz ler até o último ponto, até a última letra dele. O caráter sombrio do seu texto é algo novo pra mim; principalmente em você...
    Mas eu gosto! =P

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  2. Aaah, obrigada, Mari (:
    Estou mostrando o meu lado sombrio, rs. Aproveite!

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  3. Aprecie a irônia: Morte algo tão "macabro", porém retratada como "alguém" sutil e delicada...

    Gostei, good job!

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