sexta-feira, 7 de maio de 2010

Embriaguez

Embriaguez. Bebo da vida árdua sem cor nem fundo. Vívido. Límpido como copo de vinho. Vinho tinto. Cálice. Faz-me lembrar da igreja – padres, freiras, irmãos; não de sangue, mas de coração, digo, num só coração. Filhos do mesmo pai, condenados a um só caminho – medo talvez de muitos, salvação talvez de todos.

Olhos negros da noite a me observar na sala em frente à televisão – parada, assustada. O jornal passa, o tempo passa. As notícias pioram, uma lágrima cai. Sobrevoa um desgosto humano e irrevogável que me faz cair em si e perceber que nada fiz, nunca faço. Incrivelmente me vejo num barril de pólvora de onde ninguém pode me salvar. Vejo-me de luto em frente à mesma igreja, luto visivelmente por coisas alheias e ao mesmo tempo por todas as coisas. Não quero perder a sã consciência que um dia me foi dada – sabiamente - e que contraditoriamente não sei segui-la, assim como não sigo minhas próprias pegadas, de homem grande e humanidade fraca.
Abro a porta de casa, tudo escuro está até o momento.

A luz – ah, a luz! Faz-me refletir. Pensar nos meus antepassados. Faz-me agradecer. Pensar claramente e lentamente em cada processo árduo que fez tal indigente criar uma geringonça tão útil.
Como sou tola! Tola às vezes por parar de falar e ouvir os pensamentos de um ser que nem sabe se humano é, não sabe simplesmente por tomar atitudes feito um animal, de quatro patas ou talvez de duas, nunca se sabe. Tola ainda por escrever seus pensamentos numa folha de papel e por mais. Porém retomo esses inatos pensamentos - e muitas vezes até inglórios – e me vejo numa situação delicada. Ligar ou não a lâmpada da sala. Provavelmente minha imaginação vai ao longe, ela diz que estou errado, retruco. Eu penso além, além até do próprio pensamento: mais tarde algum indivíduo, em algum lugar do planeta pode precisar dessa energia gasta desnecessariamente, mas meu inconsciente me diz o que provavelmente é certo, para ele, logicamente. Ele, vagarosamente caminha pela minha cabeça e sonda o que penso a respeito do assunto e me faz sentir que talvez esteja certo, mas não muito. Errado um pouco, certo um pouco menos. Reparo então que só me resta dormir, afinal, energia nenhuma será gasta. Eu rio e paro por aí. Fim do dia.

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